Valor Patrimonial, Valor de Mercado e Enterprise Value
A maioria dos investidores não possui uma noção clara da diferença entre preço e valor. O preço não representa necessariamente a mesma coisa que o valor. O preço de um ativo é representado por quanto os compradores e vendedores estão dispostos a negociá-lo em um determinado momento.
O valor representa o quanto vale o ativo em função das perspectivas futuras de receitas, despesas e lucros, ou seja, o valor justo para uma empresa se dá pela definição da sua capacidade de gerar lucros no futuro. O valor percebido por um investidor pode ser completamente diferente do preço atual negociado na Bolsa, e isso varia de acordo com a percepção de cada um.
Como disse Warren Buffett, preço é o que você paga, valor é o que você leva! O preço é definido pelo mercado e o valor representa o que a empresa pode proporcionar de retornos efetivos na geração de resultados para o investidor. O valor pode ser aferido a partir da capacidade (qualidade), ou não, que os ativos têm de proporcionar fluxos de caixa positivos no futuro. Dessa forma, o conceito de valor está associado à expectativa do investidor em relação ao futuro da empresa.
Existem diversos modelos para a análise e o cálculo do valor de uma organização, desde simples técnicas comparativas de ativos e passivos contábeis até os mais consagrados modelos matemáticos baseados nos descontos de fluxos de caixa futuros da empresa e nas fórmulas de valuation.
Cada técnica tem seu respectivo valor dependendo da situação específica, sendo a sua aplicabilidade algo contingencial, além de dependerem da qualidade das informações disponíveis e das premissas adotadas. O objetivo desses métodos de avaliação é reduzir a "imponderabilidade" ou a subjetividade do valor de um ativo.
De acordo com Hagstrom, tradicionalmente há três maneiras de estabelecer o valor de uma empresa, quando houver. O valor de patrimonial é o estimado valor obtido se todos os ativos forem vendidos e as obrigações saldadas, equivale ao patrimônio líquido da empresa. O valor de mercado é o valor imputado pelo preço de negociação em bolsa. E o valor como uma unidade operacional, estimado pelo valor atual dos fluxos de caixa que a empresa pode gerar no futuro.
Um dos maiores objetivos do uso da análise fundamentalista é evitar a compra de ativos a um preço superior ao seu valor potencial ou valor justo. Por essa razão, o investidor deve analisar antecipadamente as alternativas de investimento disponíveis. Apesar da subjetividade envolvida no processo é possível obter um preço, ou faixa de preço, que melhor represente o valor real de uma empresa ou de sua ação.
"Só sei que nada sei, e o fato de saber isso me coloca em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa".
Sócrates
Valor de Mercado - É o quanto o ativo está sendo cotado em um determinado momento. O mercado é quem dita todo o comportamento do preço das ações de uma empresa, pois através de uma maior ou menor oferta e/ou procura o preço do ativo ganha ou perde valor de acordo com a tendência do mercado. Esse é o principal fator de rentabilidade para o investimento em ações.
O valor de mercado de uma empresa, ou sua capitalização de mercado, é representado pela cotação das suas ações em Bolsa multiplicada pelo número total de ações que compõem seu capital. Para o cálculo adequado do valor de mercado deveriam ser consideradas as cotações em Bolsa de cada tipo de ação (ordinárias e preferenciais) e ponderadas pelas quantidades de cada tipo no capital da empresa, incluindo as ações em tesouraria.
Ações que apresentam um histórico de valorização sustentável ao longo dos últimos 5 anos trazem ao investidor, além de segurança, credibilidade. Ainda que a rentabilidade passada não seja garantia de rentabilidade futura, se a empresa apresenta um histórico de valorização do preço de suas ações ao longo dos anos é de se esperar que essa tendência continue no futuro.
É importante comparar o Preço de Mercado à sua média. Desde que os demais fundamentos sejam atraentes, momentos em que o preço estiver flutuando num patamar abaixo da sua média poderiam indicar subvalorização. De maneira oposta, momentos em que o preço estiver flutuando num patamar muito acima da sua média poderiam indicar sobrevalorização.
Entretanto, uma decisão de investimento baseada apenas na análise isolada do gráfico de preços não é uma decisão consciente. Não se compra um gráfico, se compra uma ação, uma empresa. Buffett ensina que o investidor deve investir em empresas cujo negócio ele compreenda, que venham apresentando lucros consistentes e crescentes ao longo dos anos, que possuam um futuro promissor e baixo endividamento e, principalmente, que estejam cotadas no mercado a preços atrativos, preferencialmente com um desconto em relação ao valor intrínseco.
O valor de mercado não leva em consideração as dívidas da empresa, não avaliando assim o risco financeiro que a mesma oferece. Portanto, como fora dito anteriormente, o preço, apesar de importante, deve ser o último indicador a ser avaliado antes de se decidir uma compra ou uma venda das ações de um empresa.
A avaliação da qualidade, do risco e da rentabilidade da empresa é primordial, tanto em relação ao seu passado como em relação às suas concorrentes, de forma a identificar se a mesma está sub ou sobreperformando o seu setor e os seus próprios resultados históricos.
“O valor de um ativo é irrelevante desde que haja um “idiota maior” por aí que esteja disposto a comprá-lo”.
Teoria do Idiota Maior
Enterprise Value EV: Este indicador é considerado um valor teórico pelo qual a empresa poderia ser adquirida. Ele difere significativamente do valor de mercado da empresa, o qual pode ser obtido multiplicando o número total de suas ações pelo valor de mercado de cada uma delas, ignorando as dívidas e o caixa da empresa.
Por outro lado, ao se calcular o enterprise value leva-se em consideração as dívidas onerosas (dívida bruta) e as reservas de capitais da empresa, representando de uma forma mais abrangente o seu valor, pois se leva em consideração uma estimativa do valor do risco oferecido pela empresa, o que é muito útil ao se comparar empresas que possuem estruturas de capitais muito diferentes.
Entende-se que ao se adquirir uma empresa adquire-se também as suas dívidas e o seu caixa, portanto, o EV mostra o quanto custaria para se adquirir uma empresa e quitar as suas dívidas onerosas, descontando os valores em caixa da empresa que se receberia, representando assim o valor total da empresa e da sua estrutura de capital, ou seja, o valor do negócio. A fórmula para o seu cálculo é EV = Valor de Mercado + Dívida Bruta - Caixa e Equivalentes. Ou, simplificando: EV = Valor de Mercado + Dívida Líquida
Obviamente, a dívida bruta e o caixa da empresa têm um impacto enorme no seu EV. Contudo, um aumento ou uma diminuição no EV de uma empresa não necessariamente significa um aumento ou uma diminuição de valor. Uma empresa que possui mais caixa do que dívida bruta apresentará um EV menor do que o seu valor de mercado. Da mesma forma, uma empresa que apresenta mais dívida bruta do que caixa, situação mais comum, apresentará um EV maior do que o seu valor de mercado.
É importante acompanhar a proporção que a dívida líquida representa no Enterprise Value. Obviamente, quanto maior for a proporção da dívida líquida no EV maior será a alavancagem. O ideal é que a empresa apresente uma dívida líquida inferior a 40% do seu EV, portanto quanto menor for a proporção melhor. Valores acima 40% implicam numa grande alavancagem e, consequentemente, num maior risco.
"Um homem não pode fazer o certo numa área da vida enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível".
Mahatma Gandhi
Valor Patrimonial: O conceito teórico é que uma empresa deveria valer no mínimo o valor do seu patrimônio líquido, que corresponde ao capital investido pelos acionistas mais os lucros não distribuídos. Esse seria o valor contábil, o qual se refere ao valor dos recursos próprios da empresa, ou seja, a diferença existente entre ativo total e passivo exigível, logo, seu patrimônio líquido.
O valor patrimonial da empresa não se situa necessariamente próximo ao valor de mercado. A situação mais comum é que o valor de mercado seja superior ao valor patrimonial. Essa diferença, quando houver, representa o valor extrínseco ou o valor que o mercado atribui às suas expectativas em relação ao desempenho, às potencialidades e ao futuro da empresa, uma espécie de ágio. E, teoricamente, quanto maior for esse ágio maior será o potencial de prejuízo (risco) caso as expectativas do mercado não se realizem.
A relação entre o preço de mercado e o valor contábil sempre atraiu a atenção dos investidores. Ações negociadas por preços bem inferiores ao valor contábil do patrimônio líquido teoricamente poderiam ser consideradas como subvalorizadas, ao passo que aquelas negociadas por preços maiores do que o seus valores contábeis seriam consideradas sobre-valorizadas. VPA = Patrimônio Líquido / Número total de ações
Em teoria, o valor contábil fornece uma medida relativamente estável e intuitiva de valor que pode ser comparada com o preço de mercado e entre empresas do mesmo setor para a indicação de sub ou sobrevalorização. Entretanto, essa colocação genérica não contempla a realidade dos fatos.
Algumas ações podem passar longos períodos com preços sistematicamente superiores a seus valores patrimoniais e nem por isso deixam de ser bons investimentos. Teoricamente, quando uma ação é negociada acima de seu VPA, entende-se que o mercado aceita pagar um “ágio” por ela, pois a expectativa de crescimento, resultados e consequentes dividendos justificam esse sobrepreço.
Essa expectativa nada mais é do que uma aposta, que teoricamente tem boas chances de ganho, mas que nem sempre dá certo. Ações negociadas a cotações muito acima de seus VPAs podem indicar euforia. Existe o risco da expectativa não se cumprir. Nesses casos, um resultado abaixo do esperado pode causar uma grande correção no preço do papel, traduzindo-se em uma grande perda ao investidor.
E quando a ação é negociada abaixo de seu VPA, segundo a teoria, o entendimento é que a ação deve ser negociada com um “deságio”, pois a expectativa do mercado é que a empresa tenha um desempenho ruim. Buffett acredita que a probabilidade de uma empresa ruim se tornar uma empresa boa é muito menor do que a probabilidade de uma empresa boa permanecer boa.
"Evitar erros catastróficos é mais importante do que construir o portfólio perfeito."
Michael Batnick
O Valor Patrimonial não deve ser analisado de maneira isolada, muito menos utilizado como fator determinante de uma compra ou venda de ativos. É rara a situação em que o valor da ação negociada na Bolsa de Valores seja exatamente igual ao seu valor patrimonial devido às distorções e às expectativas do mercado em relação aos resultados futuros ou a fatos relevantes conectados diretamente ou indiretamente à empresa.
O mercado nem sempre responde conforme as expectativas dos investidores, sendo comum que sejam negociados ativos acima ou abaixo do VPA. O valor contábil do patrimônio líquido pode inclusive se tornar negativo se uma empresa tiver uma série sustentada de resultados negativos, levando a índices negativos, quando as dívidas se tornam maiores que os ativos e o patrimônio líquido.
Na maioria das vezes em que o valor de mercado de uma empresa passa a ser cotado abaixo do seu valor patrimonial isso ocorre em razão do elevado risco apresentado pela empresa, tal como um elevado endividamento e/ou baixa lucratividade, em especial uma baixa capacidade de geração de lucro operacional, ou como decorrência de uma severa crise econômica e/ou política.
É importante saber que o valor contábil não tem muito significado para empresas de serviços que não possuem ativos imobilizados significativos, nem para empresas que possuem grande quantidade de ativos intangíveis, os quais são difíceis de isolar e mensurar de maneira confiável. Por isso, recomenda-se subtrair os ativos intangíveis do valor do patrimônio líquido ao calcular o VPA.
Diferentemente do valor de mercado, o qual oscila diariamente de acordo com as expectativas e a atuação dos investidores, em situações normais o valor patrimonial da ação se mostra mais estável, flutuando a cada novo balanço divulgado de acordo com a variação do patrimônio líquido da empresa.
Diante disso, ao subtrair do preço de mercado da ação o seu valor patrimonial podemos dividir o preço de mercado de uma ação em duas partes. Uma parte que se refere ao valor patrimonial e outra que se refere ao valor dado pelo mercado de acordo com suas expectativas em relação à empresa, ao seu setor e à economia local e mundial, ou seja, o valor extrínseco da ação.
Obviamente, essa parte extrínseca do preço da ação a depender das expectativas do mercado pode se valorizar ou se desvalorizar em razão do otimismo ou do pessimismo dos investidores.
Portanto, ao investir numa ação que no momento esteja sobreavaliada pelo mercado, ou seja, esteja apresentando um elevado valor extrínseco, o investidor poderá perder dinheiro quando o mercado corrigir e, provavelmente, muito mais do que perderia caso tivesse investido numa ação cujo preço de mercado estivesse num valor mais próximo ao seu valor patrimonial, ou seja, que estivesse apresentando um baixo valor extrínseco em comparação.
E, nesta mesma linha de pensamento, ao investir numa ação que no momento esteja subavaliada pelo mercado, ou seja, esteja apresentando um baixo valor extrínseco, o investidor poderá ganhar mais quando o mercado iniciar uma tendência de alta e, provavelmente, muito mais do que ganharia caso tivesse investido numa ação cujo preço de mercado estivesse num valor muito acima do seu valor patrimonial, ou seja, que estivesse apresentando um alto valor extrínseco em comparação.
"Muita gente acha que não tem talento para ganhar dinheiro, quando na verdade o que não sabem é como usá-lo."
Frank A. Clark
O paradigma em relação ao valor extrínseco é exatamente a sua imprevisibilidade e variabilidade. Portanto, é importante avaliar a sua proporção no preço de mercado da ação, de forma a evitar a compra da ação em momentos em que seu valor extrínseco estiver muito acima da sua média histórica.
E, desde que os demais fundamentos sejam atraentes, momentos em que seu valor extrínseco estiver abaixo da sua média histórica podem indicar boas oportunidades para comprá-la, visto que seu preço possa estar subvalorizado pelo mercado.
Cabe ressaltar que em razão do Patrimônio Líquido ser o numerador no VPA, uma diminuição significativa do patrimônio líquido da empresa de um trimestre para o outro obviamente diminuirá a proporção do VPA no preço de mercado da ação, consequentemente aumentando a proporção do valor extrínseco, o que poderia indicar sobrevalorização da ação e resultar numa desvalorização do seu preço de mercado de forma que volte a se ajustar às proporções médias de VPA e VE.
O inverso acontece diante de um aumento do patrimônio líquido, o que aumentará a proporção do VPA no preço de mercado da ação, consequentemente reduzindo a proporção do valor extrínseco, o que poderia indicar subvalorização da ação e resultar numa valorização do seu preço de mercado de forma que volte a se ajustar às proporções médias de VPA e VE.
Além disso, em razão do número de ações ser o denominador do indicador, eventos como lançamentos secundários de ações e conversões de debêntures em ações por aumentarem o número de ações da empresa geram a diluição do Patrimônio Líquido, dos Lucros e dos Dividendos num número maior de ações, situação em que o preço de mercado dessas ações pode passar a ficar sobrevalorizado neste novo cenário, pois ficou mais distante do VPA em razão do aumento deste, o que por sua vez pode induzir a desvalorização do preço da ação no mercado como forma de se ajustar para esse novo cenário.
O contrário pode ocorrer após programas de recompra de ações por parte das empresas, quando o número de ações é reduzido gerando o aumento do PL, dos Lucros e dos Dividendos por ação, situação em que o preço de mercado dessas ações pode passar a ficar subvalorizado neste novo cenário, pois ficou mais próximo do VPA em razão do aumento deste, o que por sua vez pode induzir a valorização do preço da ação no mercado como forma de se ajustar para esse novo cenário.
Assim, tanto o VPA quanto o VE servem como parâmetros para avaliar se uma ação está sobre ou subavaliada, de forma que momentos em que o preço de mercado estiver flutuando num patamar muito superior à média do VPA poderia indicar sobreavaliação e em momentos em que o preço de mercado estiver flutuando num patamar mais próximo à média do VPA poderia indicar subvalorização.
"O dinheiro dos tolos é o patrimônio dos espertos."
Denis Diderot
Valor Intrínseco - Pode-se afirmar que o valor intrínseco é o valor real de uma empresa ou de um ativo com base numa percepção de valor que leva em consideração os principais aspectos do negócio, avaliando fatores tangíveis e intangíveis, bem como quantitativos e qualitativos. Esse valor pode ou não ser o mesmo que o valor de mercado atual. Diante disso, os investidores usam uma variedade de técnicas de análise para estimar os valores intrínsecos das ações na esperança de encontrarem empresas em que o verdadeiro valor do investimento excede o seu valor de mercado.
Segundo Benjamin Graham, uma empresa tem valor quando ela gera valor. Ele acreditava que os preços não eram as melhores estimativas do valor real das ações, pois além de refletirem as expectativas dos investidores a respeito de uma empresa, refletiam também os seus medos e ansiedades de forma pouco racional.
Para Buffett, os movimentos de curto prazo do mercado acionário são insuficientes para avaliar o valor de uma empresa. Os investidores “em momentum” podem ficar entusiasmados com determinada ação fazendo-a dobrar de preço num mês, independente do resultado da empresa. Da mesma forma, esses mesmos investidores podem fazer o preço de uma ação cair 30% em questão de horas, não importa qual tenha sido o lucro da empresa.
Antes da crise de 2008 a avaliação de uma empresa era fundamentada em múltiplos do seu EBITDA ou do seu fluxo de caixa operacional, que naturalmente se apoia na capacidade de geração de caixa e de lucro da empresa. Hoje as avaliações se dão com base no faturamento e na participação de mercado, independentemente da lucratividade, sempre na expectativa de grandes lucros no futuro. Diante disso, você deve se perguntar se você seria acionista de uma empresa que dá 2 bilhões de dólares de prejuízo por ano como é o caso da Uber, Netflíx e WeWork, e como foi o caso da OGX Petróleo.
O conceito de valor defendido por Benjamin Graham é muito mais profundo e abrangente, incluindo fatores difíceis de serem quantificados. Para Graham, o preço da ação de uma empresa deve refletir a expectativa que os investidores têm para os lucros futuros que a empresa é capaz de gerar, os quais determinarão não só o seu preço, mas também os dividendos que os acionistas irão receber. Este valor intrínseco não é um valor exato mas um intervalo de valores que se desloca no tempo.
A suposição de Graham era que os preços poderiam ter flutuações que não seriam consequências de decisões tomadas racionalmente. Os investidores muitas vezes extrapolam o desempenho passado das empresas para períodos futuros, sobreprecificando as ações.
Da mesma forma, o pessimismo exagerado desses mesmos investidores, em razão de resultados ruins, deprecia em excesso o seu preço de mercado. Como disse Ludwig Von Mises, valor não é intrínseco; não reside nas coisas. Valor está dentro de nós; é a forma como o indivíduo reage às condições de seu ambiente.
Nessa linha de pensamento uma grande disparidade entre o preço de mercado e o valor patrimonial poderia ser um sinal de perigo (supervalorização). Ações que apresentam valores acima de 4 no índice P/VPA podem expor o investidor ao risco. Ainda que ele esteja disposto a pagar esse "ágio" com uma expectativa de que os lucros e o valor de mercado da empresa continuarão crescendo, caso a expectativa não se realize o preço de mercado dessa ação pode ser severamente penalizado (vide OGXP3 e HYPE3), sobrando para o investidor pagar a "conta do almoço dos outros".
“O tempo estará ao seu favor se você possuir ações de ótimas empresas.”
Peter Lynch
Busca-se então uma discrepância entre o valor intrínseco da companhia e seu preço de mercado. Quanto maior for essa diferença maior será a margem de segurança do investimento. Para Benjamin Graham, o importante não é comprar ações baratas, mas comprar ações de boas empresas dentro de uma margem de segurança, ou seja, com um desconto significativo em relação ao seu valor intrínseco, o que pode ser encontrado quando o índice P/VPA está abaixo de 2.5, ou mesmo quando se encontra abaixo da sua média histórica.
Dessa forma, além potencializar o retorno do investimento é possível também minimizar os riscos. Como disse Warren Buffett, “nunca conte com grandes lucros. O seu preço de compra deve ser tão atrativo que até mesmo um resultado medíocre lhe trará um bom retorno.”
Os chineses definem crise com dois caracteres, perigo e oportunidade. São os períodos durante os quais o valor intrínseco excede significativamente o valor em bolsa que oferecem as boas oportunidades de compra. Isso quer dizer o melhor caminho é comprar ações de boas empresas que estejam momentaneamente subvalorizadas e que, com o tempo, serão reavaliadas pelo mercado e recuperarão seus preços.
Através da análise fundamentalista o investidor irá filtrar as empresas que não se encaixam nos seus parâmetros e tomará vantagem das diferenças entre seus preços e seus valores de forma mais eficaz. Geralmente os preços excessivamente descontados possuem algum motivo para estarem de tal forma.
Tais descobertas são raras e oferecem oportunidades superiores de ganho no longo prazo. Entretanto, o investidor terá uma carteira pequena, porém, formada apenas por boas empresas. Como seus investimentos serão concentrados em poucos ativos, o investidor deve conhecer profundamente estas empresas, bem como os seus setores de atuação, e acompanhar de perto o desenvolvimento de seus negócios. É a tendência natural de boas empresas expandirem seus lucros e estes se refletirem na valorização de suas ações, o que fornece a margem de segurança desta abordagem.
"Procure comprar notas de 1 dólar por 50 centavos e um dia você ficará rico."
Benjamin Graham
O valor é um conceito subjetivo e pode variar de investidor para investidor. Afinal, são os diferentes julgamentos de valor que fazem o mercado funcionar, havendo sempre compradores e vendedores proporcionando liquidez para os ativos. Tudo isso acarreta distorções entre o valor de mercado e o valor potencial. Os preços dos ativos tendem a flutuar independentemente dos valores potenciais destes, raramente havendo coincidência, o que refuta o princípio da racionalidade de que o mercado sempre precifica corretamente o valor dos ativos, em outras palavras, a hipótese da eficiência dos mercados.
Em períodos de crise como o atual, muitas ações de empresas fantásticas podem ser subavaliadas, se transformando em grandes negócios para o longo prazo (algo como comprar uma nota de 1 real por 50 centavos); e em períodos de bonança financeira, ações de empresas fadadas ao fracasso podem ser sobrevalorizadas, tornando ainda mais arriscado o investimento nelas.
O investidor inteligente deve procurar lucrar com a volatilidade do mercado. De acordo com Benjamin Graham, ao contrário do que muitos pensam, mercados em queda são mercados cheios de oportunidades. Segundo ele, as crises são momentos de pessimismo exagerado e momentâneo em que o preço das ações não reflete a real condição das empresas.
Por outro lado, no longo prazo (5, 10, 15 anos) as cotações das ações tendem a refletir o que se passou na empresa durante esse período. Se ela obteve lucros crescentes e constantes e, principalmente, se seu Patrimônio Líquido aumentou, sua cotação tende a subir.
"Para obter o sucesso no mercado você precisa do tipo de temperamento que o ajude a enfrentar tempestades e a continuar fiel a seus planos de longo prazo. Se conseguir ficar tranquilo enquanto os outros à sua volta estiverem em pânico, poderá vencer".
Warren Buffett