Como Investir em Renda Variável?
Em renda variável sempre é possível errar e perder. O mercado de renda variável leva este nome justamente porque não é possível determinar com absoluto grau de certeza qual será o rendimento futuro dos investimentos desta modalidade. Muito embora o investidor esforce-se ao máximo para determinar que sua operação seja rentável, não há garantias disso.
É fundamental entender que investir em renda variável significa aceitar e administrar o risco de se perder dinheiro no intuito de ganhar mais do que a renda fixa, quando se está certo. Obviamente, busca-se um risco que valha a pena. Se aceita o risco de perder desde que o retorno potencial seja maior ou pelo menos muito mais provável. De qualquer forma, o risco de perder estará sempre presente.
Ao comprar ações, por exemplo, um investidor está comprando esperança, uma expectativa de que a empresa terá bons resultados no longo prazo, que a conjuntura econômica será favorável e, principalmente, que o mercado precifique tais fatores valorizando o preço dessa ação.
Quer você queira ou não, no mercado você opera risco. Se você não levar isso em consideração você estará apenas aumentando o seu risco, pois ele estará presente de qualquer forma. Sendo assim, investir no mercado financeiro é se relacionar com o risco. A possibilidade de perder dinheiro existe, portanto, torna-se necessário se proteger e ao mesmo tempo trazer as chances a seu favor.
Por isso, acostume-se com a ideia de que em vários momentos prejuízos irão ocorrer. Isso é normal no investimento de renda variável. O que fica ao alcance do investidor são regras e métodos para administrar esse risco, de forma que ele seja sempre controlado e aceitável.
“Quando um trabalho é mal feito qualquer tentativa de melhorá-lo o piora.”
Todavia, ao estarmos dispostos a correr maiores riscos não podemos nos contentar com uma rentabilidade medíocre, o que conseguiríamos na renda fixa sem muito esforço. Uma rentabilidade de 30% ao ano requer ganhos de 2,21% ao mês para ser atingida. Na renda fixa é muito difícil, senão impossível, conseguir isso. Mas na renda variável é o mínimo que se deve ter como objetivo de forma a compensar o esforço que este investimento demandará, ou seja, uma maior dedicação.
O custo do dinheiro é uma importante consideração para todos os investidores. Serve como parâmetro de referência para avaliar o desempenho de qualquer investimento de renda variável. A performance de qualquer investimento será medida em relação aos investimentos de pequeno risco como os de Renda Fixa ou em relação à taxa de juros ou à inflação.
Dessa forma, quanto maior for o custo do dinheiro maior terá de ser o desempenho de um investimento de renda variável para que este compense. Se a taxa de juros anual está em 8%, esse valor deverá ser deduzido do resultado final de suas operações para que você possa apurar o lucro “real” do período.
Assim, um investidor que auferiu 15% de rentabilidade anual com investimentos de renda variável na verdade obteve um lucro real de 7%, pois caso seu capital tivesse sido investido em Renda Fixa teria um rendimento bruto de 8% sem grandes riscos. Sem contar que essa baixa rentabilidade não compensaria a exposição do seu capital aos riscos do mercado de renda variável.
Planejar é fundamental para evitar erros e para controlar o fluxo de emoções que levam à confusão mental e à perda de objetividade. Um bom plano de investimento deve evoluir com o tempo e ser constantemente reavaliado. Um investimento não acaba quando você o liquida, mas quando você avalia se seu retorno foi satisfatório, se seu método de análise lhe indicou bons momentos para abrir e para fechar sua posição e se você teve a confiança e a disciplina para executá-lo no momento certo (timing).
Dentre os principais investimentos de renda variável podemos citar:
- Ações
- Fundos de Investimento (em Ações, Cambiais, Multimercado, de Índice de Ações)
- ETF (Exchange Traded Funds)
- Fundos Imobiliários
- Mercado Futuro (Termo, Opções e Contratos Futuros sobre Ações, Índices, Moedas e Commodities)
“Quando tudo que você tem é uma nota de 10 dólares e você a arrisca no mercado, estará sendo muito mais ousado do que quando arrisca um milhão de dólares tendo outro milhão guardado”.
Jesse Livermore
Neste ponto, o investidor deve definir em qual mercado irá operar, qual estratégia irá utilizar quando o mercado subir e qual utilizará quando cair, qual parcela de seu capital será destinada à renda variável e qual o risco máximo de perda que está disposto a tolerar. O mercado de ações oferece um bom retorno anual e, como investimento de longo prazo, não requer acompanhamento em tempo real e não expõe o investidor aos grandes riscos da alavancagem das operações em margem como no mercado futuro.
Para os que buscam um retorno maior em suas operações, comprar ações a termo lhes dará alavancagem sobre o capital investido, o que possibilitará um potencial de lucro muito maior. As corretoras disponibilizam alavancagem de até 10 vezes o valor do seu capital para compra a termo, ou mesmo, operações de day trade.
Obviamente, neste caso o risco também será 10 vezes maior, potencializando tanto o lucro quanto o prejuízo. Isso requer um acompanhamento maior do mercado e uma maior disciplina por parte do investidor.
Outra possibilidade é operar no mercado futuro, o qual pode proporcionar um maior retorno em razão de sua alavancagem, ou mesmo, no mercado de opções, o qual devido à grande volatilidade e alavancagem também possibilita maiores retornos. Entretanto, ambos os mercados requerem estudo, estratégia e acompanhamento durante o pregão, além de envolverem um alto risco.
Alguns especuladores conseguem obter ganhos expressivos nestes mercados. Todavia, a realidade deixa evidente que o número de especuladores frustrados supera de longe o número de vitoriosos. E mesmo esses poucos que conseguem fazer isso com sucesso não o fazem por muito tempo. Quando ganham uma quantia considerável de dinheiro, ou investem-no em aplicações mais conservadoras, ou acabam devolvendo-o ao mercado.
“Alguns gostam de procurar, outros gostam de encontrar, mas poucos percebem que já o tem”.
Ed. Seykota
Buscar o sucesso no mercado do dia pra noite, a satisfação imediata, é a maneira mais gananciosa e, consequentemente, a mais irresponsável de se “investir” em Renda Variável. Realizar operações por impulso, sem controle de risco ou gerenciamento de capital é para aqueles que fazem do mercado um cassino ou um jogo de azar qualquer. O mercado financeiro, diferente do cassino, oferece mecanismos e estratégias de defesa para aqueles que compreendem bem o seu funcionamento e que operam com risco coberto.
Não opere utilizando margem ou com derivativos sem ter um mínimo de experiência no mercado e responsabilidade, sem conhecer as regras e estratégias operacionais para estes mercados, sem ter o tempo para acompanhar suas operações e, principalmente, antes de obter uma boa performance e um bom retorno investindo em ações. Operando com margem e alavancado o investidor corre o risco de perder todo seu patrimônio, podendo até mesmo ficar devendo a corretora, caso sua operação dê errado e ele não encerre sua posição a tempo.
O investidor prudente opera com risco coberto e procura gerenciar bem seu capital de renda variável. Bem diferente de jogadores que tendem a operam por impulso e ganância ao realizarem operações embasados predominantemente por intuição e dicas, esperando ganhar a sorte grande. Para especular no mercado com sucesso é preciso definir um objetivo e montar um planejamento básico, ou seja, uma estratégia de investimento, estabelecendo assim:
Qual percentual do capital será destinado para essa operação?
Que ativo irei operar? Qual a estratégia?
Quando comprar? Quando vender?
Qual é o meu limite de perda?
"A forma com a qual você lida com o fracasso determina como alcançará o sucesso."
David Feherty
Além disso, torna-se essencial avaliar os resultados dos seus investimentos, buscando a aprendizagem tanto nos sucessos quanto nos fracassos. Isso significa ponderar se o sucesso se deu pela sorte ou pela sua habilidade de compreensão da situação e pela sua capacidade de agir a tempo hábil. Isso fará com que o investidor seja honesto consigo mesmo e evite repetir erros.
Portanto, é necessário estudar as estratégias de investimentos, ponderar sobre suas relações de rentabilidade e risco, bem como a respeito do quanto de tempo e de atenção que as mesmas demandarão do investidor. Aprenda a operar ações, opções, futuros e como combiná-los. Aprenda a proteger seu capital e a adaptar-se às mudanças. É importante aprender a ler o ambiente de maneira que ele te mostre a maneira mais apropriada para se comportar, de forma que consiga atingir os seus objetivos de maneira mais fácil e eficiente.
Avalie o seu grau de controle emocional, a sua independência de escolha e de influências externas. Defina o seu planejamento, acredite nele e tenha capacidade para cumpri-lo. Vá aos poucos abandonando os mercados e estratégias que não se adaptam ao seu perfil, assim como aqueles investimentos que não deram certo.
Teste mais os investimentos que deram resultado e estratégias que você melhor se adapta, adquirindo progressivamente mais experiência. Com o tempo você definirá suas estratégias de investimento no mercado e construirá seu próprio método de investir. Selecionar uma estratégia normalmente não é difícil, executá-la e administrá-la é.
"A corrente dos hábitos é muito leve para ser sentida até que eles a tornem pesada demais para ser quebrada".
Samuel Johnson
A Importância da Liquidez em um Investimento
No momento de escolher um investimento, além da rentabilidade, a liquidez é um importante aspecto a se considerar. Liquidez é um conceito econômico que considera a facilidade com que um ativo pode ser convertido em dinheiro. O grau de agilidade de conversão de um investimento sem perda significativa de seu valor mede sua liquidez, logo, quanto mais rápida for essa conversão mais líquido esse ativo será.
De maneira contrária, um ativo com pouca liquidez é mais difícil de ser convertido em dinheiro, seja pela falta de compradores ou pelo tempo necessário para liquidar o investimento. Dessa forma, a liquidez pode ser entendida como uma medida do interesse que o mercado tem em negociar um determinado bem.
É fundamental para todo investidor gerenciar bem a maneira como distribui seu capital entre diversos investimentos, sempre reservando parte deste para investimentos cuja liquidez é imediata. Isso lhe permitirá no caso de uma emergência ou do surgimento de uma excelente oportunidade de investimento sacar esses recursos rapidamente para utilizá-los.
Abrir mão da liquidez pode significar não ter recursos disponíveis em conta para cobrir eventuais gastos emergenciais ou imediatos. A falta de capital disponível em conta pode obrigá-lo a ter que liquidar investimentos de longo prazo antecipadamente, muitas vezes em momentos inapropriados, com prejuízo ou a preços ruins. Esse tipo de desorganização financeira acaba com os resultados de qualquer investimento de longo prazo, bem como deprecia o patrimônio do investidor.
Em contrapartida, a parcela restante do capital pode ficar imobilizada em investimentos com menor liquidez. Esses serão os recursos que o investidor não precisará no curto prazo, pois de nada adianta buscar uma maior rentabilidade em aplicações de longo prazo se tiver que recorrer a empréstimos bancários para cobrir eventuais lacunas no seu orçamento.
Da mesma forma, de nada adianta um investimento oferecer uma alta rentabilidade se no momento em que é preciso liquidá-lo o investidor seja obrigado a fazê-lo por um valor abaixo do preço de mercado, ou mesmo, não consiga liquidá-lo rapidamente.
“Da Cama, da Mesa e da Bolsa, a gente sempre deve sair achando que deveria ficar um pouco mais.”
Anônimo e Quebrado
A liquidez é importante não apenas para investimentos de renda variável tais como ações e imóveis, mas principalmente para investimentos de renda fixa, plano de previdência privada e títulos públicos. Alguns desses investimentos têm data prefixada para resgate ou prazo de carência e, em razão disso, oferecem uma rentabilidade um pouco maior em relação aos que possuem liquidez diária. O investidor deve avaliar se essa diferença de rentabilidade compensa o risco associado à perda da liquidez diária.
Ficar com o dinheiro “preso” pode vir ser um incômodo para o investidor caso venha a precisar dele. O PGBL por exemplo, apesar de ser o melhor instrumento para restituição de IR, está entre os piores investimentos em termos de liquidez. No caso de um resgate antecipado o investidor tem que arcar com uma exorbitante alíquota de IR, além das taxas, o que muitas vezes fazem com que o valor resgatado seja menor do que o que fora investido. A falta de liquidez é o alto preço que se paga por alguns benefícios oferecidos por esse produto, como os de natureza tributária.
Investimentos de renda fixa mais conservadores, tais como caderneta de poupança, CDI e CDB apresentam elevado grau de liquidez e baixo risco, consequentemente, apresentam também as menores rentabilidades do mercado. Existem algumas exceções tais como os CDI’s prefixados, em que a taxa de retorno está atrelada a prazos de carência e por isso oferecem retornos um pouco maiores. Mas caso seja feito um resgate antecipado uma parte da rentabilidade, senão toda, ficará prejudicada, havendo inclusive casos em não é possível realizar um resgate antecipado.
Outra estratégia oferecida por bancos e fundos é aumentar gradativamente o percentual do CDI pago à medida que o tempo de permanência no investimento aumenta. Em suma, quanto mais cedo for realizado o resgate menor será a rentabilidade, pois uma maior rentabilidade geralmente está vinculada a uma menor liquidez.
No mercado de capitais liquidez é poder comprar ou vender um ativo rapidamente e por um preço próximo à média do preço praticado no mercado. Um ativo com liquidez possui uma diferença de preço muito pequena entre a melhor oferta de venda e a melhor oferta de compra, ou seja, possui um spread pequeno entre a ponta de compra e a de venda. De uma maneira geral, a maioria dos investidores prefere investir em ativos líquidos, uma vez que podem encerrar suas posições a qualquer momento do dia caso queiram, sem contar os demais aspectos, tais como credibilidade e expectativa de mercado.
“A maior ironia do mercado de capitais é a ênfase que é dada ao volume de negociação. Corretores ao utilizar termos como liquidez e giro financeiro, estão nos mostrando empresas cujas ações possuem elevada rotatividade. Mas os investidores precisam entender que aquilo que é bom para o “cassino” não é bom para o cliente. Uma Bolsa de Valores hiperativa é como um batedor de carteiras institucionalizado”.
Warren Buffett
As ações que compõem o Ibovespa têm muita liquidez, possibilitando que o investidor abra ou feche uma posição a qualquer momento durante o pregão a um preço próximo ao último negócio realizado. Possuem também um volume de negócios bem acima de 10 milhões de reais por dia.
A liquidez é então a garantia de que o investidor poderá entrar e sair do mercado quando quiser, sem que haja uma grande diferença de preço entre a melhor oferta de compra e a melhor oferta de venda (deságio). Entretanto, é um erro imaginar que as ações com maior liquidez sempre oferecerão os maiores ganhos. Ações de pequenas empresas (small caps) possuem menor liquidez e, normalmente, maior volatilidade, propiciando um potencial para maiores ganhos ou perdas.
O primeiro ponto que o investidor deve analisar antes de investir em um ativo é certificar-se de que este é negociado diariamente, qual é a quantidade de negócios realizados e quanto é o volume financeiro girado por dia. Dessa forma, saberá se a quantidade de ativos que deseja negociar poderá ser executada apenas com uma ordem ou se terá que dividir essa quantidade em várias ordens se quiser um preço próximo ao de mercado.
Ativos com pouca liquidez dão mais “trabalho” para serem negociados, seja em razão das ordens de compra e de venda terem que ser divididas em quantidades pequenas ou em função de um grande spread entre a ponta de compra e a de venda. Abaixo temos um exemplo do leilão de dois ativos, um com pouca liquidez e outro com muita. É possível perceber que o ativo de baixa liquidez possui um grande spread entre as pontas de compra e de venda e que a maioria das ordens são de pequenas quantidades.
Ativos com baixa liquidez estão mais propensos a manipulação por parte dos investidores institucionais, ou em alguns casos, mesmo por parte de alguns investidores mais apressados e gananciosos que buscam a maior volatilidade destes ativos, muitas vezes investindo em ações de empresas com problemas financeiros ou concordatárias, cujas ações geralmente custam poucos centavos.
Essas são chamadas de “micos” do mercado, em razão do seu valor ter sido tão depreciado que “virou pó de mico”. São investimentos de altíssimo risco e sem garantia alguma de retorno, pois a qualquer momento a negociação de seus ativos pode vir a ser suspensa por algum motivo, na maioria das vezes porque a empresa abriu processo de falência. Neste caso, ocorre o congelamento dos papéis e é “game over” para esses investidores “espertinhos”.
“Vamos agradecer aos idiotas. Não fosse por eles não faríamos tanto sucesso”.
Mark Twain
Em razão de seu baixo valor e da pouca liquidez esses ativos tendem a serem muito voláteis porque são facilmente manipulados. Na maioria das vezes possuem um grande spread entre o melhor preço de compra e o melhor preço de venda, o que dificulta entrar e sair desses ativos e muitas vezes inviabiliza a operação.
Além disso, é extremamente difícil fazer uma análise dos fundamentos dessas empresas, que normalmente possuem grande endividamento e pequeno patrimônio. Suas cotações podem subir ou cair 50% de uma hora para outra em razão de qualquer acontecimento novo, ou mesmo, por boatos ou por uma simples manipulação de preços, visto que não há necessidade de um grande capital para fazer isso.
Muitos investidores, cientes dos riscos, investem nos micos como se fosse um dinheiro de loteria, onde o que ocorrer será lucro, pois sabem que assim como o preço do ativo pode disparar, o mesmo pode virar pó de uma hora para outra. Outros oportunistas montam posições nestes ativos e, posteriormente, fazem posts em fóruns, redes sociais e chats, anunciando que a empresa está para ser comprada ou que é muito promissora, sendo assim um grande investimento.
E assim que os desinformados começam a comprar o ativo e os preços disparam, eles entram na venda e o preço da ação despenca rapidamente. São golpistas que através de recomendações e influência geram demanda na massa desinformada para esses ativos de pouca liquidez.
“Acreditamos que atribuir o nome de investidores a instituições que negociam freneticamente é como chamar de romântico alguém cujos namoros só duram uma noite.”
Warren Buffett
A liquidez confere às ações, não somente valor, como uma precificação adequada. Via de regra, quanto maior o número de ações no mercado, maior o número de transações realizadas e a capacidade de negociação desses papéis no mercado. Daí a importância do Free float, que mede a porcentagem de ações da companhia que estão em livre circulação no mercado. São aquelas ações que não pertencem a acionistas estratégicos e que se encontram em circulação, excluindo-se aquelas pertencentes aos controladores e aquelas mantidas na tesouraria da companhia.
Na prática, quanto maior o free float de uma companhia, maior será a liquidez de suas ações no mercado, mais pulverizado será o capital da empresa entre investidores minoritários, o que torna suas participações mais significativas, e maior será a facilidade com que os investidores minoritários poderão adquirir e vender livremente suas ações.
Isso é particularmente importante para o pequeno investidor no caso de empresas menores, que possuem muitas ações em poder de poucos acionistas estratégicos. Esse tipo de concentração não é interessante para o acionista minoritário. As companhias listadas no Novo Mercado e nos Níveis 1 e 2 da B3, precisam, obrigatoriamente, apresentar um free float de, no mínimo, 25% de suas ações em livre circulação para negociação no mercado
Existe, contudo, um aspecto negativo à grande liquidez de mercado, ela pode induzir o investidor a realizar mais negociações do que deve, pois a qualquer momento ele pode entrar e sair de um determinado ativo. Um dos motivos porque investidores iniciantes perdem dinheiro ou não conseguem auferir ganhos significativos é a falta de visão de longo prazo. Buscam pequenos lucros em operações de curto prazo e acabam perdendo os grandes movimentos de preço de longo prazo.
Ao verem no home broker a cotação dos ativos piscando verde e vermelho tomam decisões e fazem operações por emoção e impulso. O day trade apesar de ser uma estratégia simples e, teoricamente, de menor risco, pois não se está posicionado no mercado o tempo todo, requer “estômago”, tempo e é muito difícil. Muitos investidores realizam day trade, mas no longo prazo poucos têm sucesso e conseguem consolidar algum patrimônio.
“Se você precisa acompanhar o gráfico de preços a todo segundo, sua estratégia de investimento está errada”.
Warren Buffett
O Drawdown de um Investimento
Recuperar um capital perdido é muito mais difícil do que preservá-lo. Uma pessoa que possua um capital de R$ 100.000,00 e venha a perder 25% deste ficará com R$ 75.000,00. Se no mês seguinte ganhar 25%, seu capital não voltará a ser R$ 100.000,00, mas R$ 93.750,00. E se ao invés de 25% perder 50%, precisará obter um ganho de 100% sobre o capital restante para voltar a possuir os mesmos R$ 100.000,00. Caso a perda seja de 90%, precisará obter um ganho de 900% apenas para voltar a ter o capital com que começou.
Isso é o drawdown de um investimento. É o percentual sobre o capital restante que é necessário ganhar para recuperar o total do capital investido. Recuperar-se de um drawdown pode ser extremamente difícil, pois é preciso ganhar um percentual maior do o que fora perdido para voltar o breakeven (zero a zero).
Iniciantes tendem a achar que caso se perca 10% do capital investido, ao se ganhar 10% sobre o que sobrou se voltará a ter o mesmo que se tinha antes, o que não é verdade, pois neste caso será preciso ganhar 11,11% para recuperar o total investido. Essa relação aumentará geometricamente na medida em que o prejuízo ficar maior. Isso demonstra o quanto o gerenciamento de capital e o controle do risco são importantes.
“Sorria… amanhã será pior.”
Muitos investidores não se dão conta do quanto é importante liquidar investimentos que deram prejuízos. Supondo que uma pessoa com um capital de R$ 100.000,00 para investir em renda variável estabeleça seu objetivo de rentabilidade entre 30% e 50% ao ano.
Se acumular um prejuízo que chegue a 33% desse capital, mesmo que depois disso ainda consiga atingir uma rentabilidade anual de 50% e se recuperar de seu drawdown, terminando o ano com R$ 100.500,00, ainda assim ela terá perdido um ano de rentabilidade que poderia lhe render algo entre 30 e 50 mil reais, o chamado custo de oportunidade. Esse recuo prejudica o acúmulo de patrimônio e o investimento de longo prazo e, caso ocorra numa posição alavancada, pode até mesmo impossibilitá-los.
Investidores veteranos e gestores de fundos sabem o quanto é difícil recuperar um drawdown. Conhecem bem e respeitam essa relação de risco x retorno. Têm sucesso no longo prazo porque controlam sua exposição através de um bom gerenciamento de risco e de uma boa alocação de seu capital. Durante toda a história houve alguns investidores que a partir de pequenas quantias fizeram grandes fortunas, George Soros, Warren Buffett, dentre outros. Mas foram esquecidos por ela uma grande quantidade de investidores que, por desrespeito ao risco, acabaram falidos.
Compreender a natureza do risco é mais importante do que simplesmente reagir a ele. Segundo Soros, é preciso saber quando se está agindo e investindo de maneira errada. Ter a consciência de que tomou decisões ruins e reconhecer isso vai ajudar o investidor a se recuperar e procurar saídas para contornar seus problemas, evitando a ampliação das perdas e prejuízos. Por isso, dedique tempo para estudar mecanismos de defesa para o caso de não acontecer o que você espera no mercado. Todos operam bem no lucro. Aprenda a operar bem no prejuízo e no longo prazo você será um vencedor.
“Não espere por uma crise para descobrir o que é importante em sua vida”.
Platão
O gerenciamento de capital se refere ao uso apropriado do dinheiro. Consiste no paradigma entre investi-lo para a obtenção de um lucro máximo e protegê-lo contra os riscos para garantir uma longevidade máxima. No mercado volatilidade significa movimento, é a amplitude da variação dos preços de um ativo. Quanto mais volátil for o mercado maior será o risco e, consequentemente, maior deverá ser a tolerância de perda do investidor, logo, maior será a distância que deverá ser posicionada a ordem stop.
O investidor gostaria de ter a sua ordem stop limitando o risco da operação próximo o bastante para que suas posições perdedoras tenham um prejuízo pequeno. Contudo, uma ordem muito próxima pode resultar numa liquidação prematura em razão dos movimentos de curto prazo no mercado. A colocação de uma ordem stop a uma distância maior evitaria tal liquidação, mas em contrapartida incorreria num prejuízo maior caso fosse acionada.
No mercado praticamente todo mundo pode ter lucro numa operação, entretanto, poucos conseguem acumular um bom patrimônio com o passar dos anos. O objetivo do gerenciamento de capital é acumular dinheiro reduzindo as perdas em operações que derem errado e maximizar os ganhos das operações que derem certo. Desta forma, uma maior disciplina pode ser alcançada se tivermos grandes lucros e pequenos prejuízos. E a única maneira de se proteger contra grandes prejuízos é realizando pequenos prejuízos, que são o custo para se manter o negócio, fazem parte do negócio.
“Sem o insucesso nada podemos aprender e, contudo, aprendemos a valorizar o êxito como o único padrão aceitável”.
Um investidor experiente aceita suas perdas como um empresário aceita os custos para realização do seu negócio. Aceitar um prejuízo é muito difícil para investidores iniciantes, e mesmo para muitos investidores veteranos por serem arrogantes ou orgulhos. Uma perda nada mais é do que um erro cometido por você. O que é preciso fazer é refletir a respeito do que ainda pode ser feito para contorná-lo ou para limitá-lo, bem como para evitar que se repita no futuro.
Quando o investidor se prende a uma operação perdedora ele não perde dinheiro apenas pela desvalorização do ativo, mas também pela perda da rentabilidade em outras oportunidades de investimento em função do capital estar “preso”. E acima de tudo, perde-se uma das coisas mais valiosas do mundo, a qual o dinheiro não pode comprar, o tempo.
O relógio anda contra todos e não para. Os investidores de um modo geral dão atenção ao dinheiro sem consciência da importância do tempo. Produzir dinheiro requer, além de esforço, tempo. E da mesma maneira, operar no mercado também consome tempo, e aprender a operar no mercado consome mais tempo ainda. Se você realmente deseja investir deverá dedicar parte de seu tempo para isso.
O mercado e os fundamentos devem ser constantemente estudados, métodos de análise devem ser avaliados com regularidade, estratégias devem ser planejadas e decisões devem ser tomadas. Isso tudo constitui um processo trabalhoso que consome tempo, raciocínio e dedicação.
Consolidar um bom patrimônio leva tempo e trabalho duro. Fazer dinheiro no mercado também requer tempo. Por isso, é importante proteger seu capital e consolidar seus lucros em patrimônio. Ao realizar seu lucro comprando imóveis, terrenos, ou mesmo, títulos públicos, você estará consolidando o seu patrimônio.
Talvez o maior erro de um investidor veterano seja reinvestir no mercado tudo que ganhou em todos seus anos de negociação, fazendo uma “bola de neve” no intuito de alavancar a rentabilidade de suas operações. Caso uma de suas operações dê errado, basta que ele cometa o erro de não cortar suas perdas uma só vez para que anos de rendimentos sejam devolvidos ao mercado, bem como os anos de estudo, trabalho e resultados que também serão perdidos.
“Os frutos do seu sucesso serão diretamente proporcionais à honestidade e à sinceridade do seu esforço em manter e acompanhar a sua performance no mercado, fazendo suposições e tirando suas próprias conclusões”.
Jesse Livermore
Um investidor deve ser um especialista em valores. Isso quer dizer que em momentos em que os títulos públicos ou os títulos privados, tais como CDBs e debêntures, estiverem numa faixa de preço atraente e, consequentemente, os juros pagos nestes títulos estiverem altos, o investidor tomará proveito disso comprando esses títulos.
Da mesma forma, quando as ações de boas empresas ou as cotas de bons fundos imobiliários estiverem com preços descontados e oferecendo um alto retorno anual em dividendos, ou seja, quando os indicadores como Preço/Lucro, Preço/Valor Patrimonial e o Preço de Mercado dessas empresas/fundos estiverem abaixo da média e atrativos, bem como quando o Dividend Yield estiver acima da média, o investidor tomará proveito disso comprando ações dessas empresas/fundos.
Por fim, em momentos em que nenhum ativo/investimento estiver disponível a valores atraentes, o investidor alocará seus recursos para a renda fixa pós fixada e com liquidez diária e irá esperar um momento mais oportuno para investir naqueles ativos.
É fundamental procurar sempre acompanhar sua performance no mercado, ou seja, a rentabilidade de seus investimentos. Marque o dia em que começou a investir no mercado e calcule se seu retorno está acima ou abaixo do seu objetivo de rentabilidade anual.
Se estiver abaixo de 25% ao ano é sinal de que você deve estudar mais e dedicar mais tempo buscando outras alternativas ou estratégias de renda variável. Se estiver acima é sinal que você deve planejar o que fazer com seus lucros, definir em que irá imobilizá-los para protegê-los dos riscos ao quais estão expostos no mercado. Sempre saiba qual a sua posição exata e o quanto você está ganhando ou perdendo e, acima de tudo, o que isso representa para você.
Portanto, de tempos em tempos procure realizar seus lucros do mercado em investimentos mais convencionais e “sólidos”. Não interessa se estes oferecem uma rentabilidade menor do que suas operações no mercado. O que interessa é que seu dinheiro estará imobilizado longe do risco do mercado e de suas operações.
Em suma, a análise de mercado diz ao investidor para onde é mais provável que o mercado se mova. A estratégia operacional lhe diz o que fazer quando o mercado se mover. O timing lhe indica quando o fazer. E o gerenciamento de capital lhe diz o quanto investir, o quanto poderá tolerar de perda, caso a operação dê errado, e o quanto dos lucros deverá ser consolidado em patrimônio.
“A diferença entre o vencedor e o perdedor não está no quanto possuem, e sim na maneira como veem e utilizam os recursos e experiências que possuem”.
Capital e Valor