Como Avaliar a Liquidez Financeira de uma Empresa?
A análise financeira ou análise de balanço, como é mais conhecida, é um dos principais instrumentos de análise do desempenho econômico-financeiro de uma empresa e da sua situação patrimonial. A análise dos balanços permite tirar conclusões sobre os problemas de liquidez da empresa (incapacidade de satisfação dos seus compromissos financeiros), bem como sobre o seu endividamento (relação entre ativos e dívidas).
Compreender o que é divulgado no balanço é crucial para saber se a empresa será capaz ou não de gerar valor para seus acionistas. Afinal, o valor para o acionista acaba vindo dos ativos mais líquidos que a empresa possui, os que podem ser facilmente convertidos em dinheiro.
O valor de uma companhia é determinado por quanto, medido em termos de ativos líquidos, ela consegue acumular ao longo do tempo, ou seja, pelo crescimento do seu patrimônio líquido. Uma empresa muito endividada pode ter dificuldades para conseguir fundos suficientes para financiar os seus projetos e as suas atividades, estar na iminência de se tornar insolvente, ou até mesmo falir.
Por outro lado, um excesso de liquidez gera baixa rentabilidade e a falta de endividamento pode comprometer a rentabilidade pela falta de recursos para investimento. Esse é um dos paradigmas que a administração tem que enfrentar continuamente, conciliar bem o equilíbrio entre a Liquidez e a Rentabilidade.
A liquidez de uma empresa é analisada pela sua capacidade de saldar suas obrigações de curto e de longo prazo. Em termos mais simples é a facilidade que a empresa tem de pagar suas contas em dia. No caso de ter uma liquidez baixa a empresa deve ficar em alerta, pois futuramente poderá apresentar problemas com o fluxo de caixa e a insolvência iminente do negócio.
Além disso, num cenário econômico onde o consumo está baixo, os juros estão altos e o crédito restrito, a empresa deve concentrar recursos em ativos financeiros de alta liquidez, aumentando assim o seu grau de liquidez imediata, de forma a se proteger contra eventuais imprevistos. Por outro lado, em um cenário de juros baixos e consumo aquecido a empresa terá maior flexibilidade para investir seus recursos em duplicatas a receber, estoques e em ativos imobilizados, buscando assim incrementar a sua lucratividade.
Obviamente, é preferível investir em empresas líquidas a empresas não líquidas. E só se pode transformar o ativo em dinheiro rapidamente se for ativo circulante. Assim, prefira ativo circulante em vez de ativo não circulante. Contudo, não se pode concluir que uma empresa esteja em melhor situação do que outra apenas porque apresentou melhores valores nos seus índices de liquidez.
A análise de liquidez é complementada pela análise de rentabilidade porque a forma pela qual os índices são calculados não consideram o potencial de lucro. Deve-se considerar os aspectos dinâmicos que afetam a liquidez, bem como as características do setor e do negócio da empresa.
Todavia, uma empresa certamente não estará com uma situação financeira confortável se apresentar elevada participação de recursos de terceiros em relação ao capital próprio e ao ativo total, com predominância de dívidas a curto prazo nas exigibilidades totais e com elevada imobilização dos seus recursos permanentes.
Além dos índices de rentabilidade (Margem Bruta, Ebitda, Taxas de Retorno) costuma-se utilizar outros indicadores para mensurar a saúde financeira da empresa e avaliar a sua capacidade de saldar suas obrigações de curto e longo prazo. Os índices de liquidez mostram a base da situação financeira da empresa.
São índices que confrontam os Ativos com as Dívidas, procurando medir quão sólida é a base financeira da empresa. Para uma empresa ter boas condições de pagar suas dívidas ela deve ter bons índices de liquidez, os quais permitem avaliar a relação entre os ativos (bens) e os passivos (dívidas) no curto e no longo prazo.
“Nada estabelece limites tão rígidos à liberdade de uma pessoa quanto a falta de dinheiro.”
John Kenneth
• Liquidez Geral - Esse índice representa a capacidade que a empresa tem de pagar suas dívidas a longo prazo, possibilitando avaliar toda a capacidade de pagamento da empresa, considerando tudo que ela pode converter em dinheiro a curto e a longo prazo. Indica quanto a empresa possui no ativo circulante (menos de 1 ano) e no ativo não circulante (mais de 1 ano) para cada R$1,00 de dívida total. Quanto maior for a liquidez geral melhor será para a empresa.
Se o índice for maior do que 100% pode-se dizer que a empresa é solvente, ou seja, possui mais ativos do que dívidas. Se o índice for menor do que 100% pode-se dizer que a empresa é insolvente, ou seja, possui mais dívidas do que ativos. Assim, um valor acima de 100% nos indica que a empresa tem capacidade para pagar todas as sua dívidas e se manter funcionando por pelo menos mais um ciclo operacional (1 ano).
Recomenda-se analisar a evolução da liquidez geral da empresa ao longo dos anos de forma a identificar se a sua tendência é estável ou se está aumentando, o que pode ser visto como um bom sinal, ou se está diminuindo, o que pode ser visto como um mau sinal, pois indica a diminuição da sua liquidez financeira, o que em último caso pode evoluir para um quadro de insolvência.
A liquidez geral oferece a mesma indicação da liquidez corrente, mas engloba também os ativos e passivos a longo prazo. Se o resultado do índice for superior a 100% significa que ela possui bens e direitos líquidos suficientes para liquidar seus compromissos financeiros.
Porém, se for menor do que 100% a empresa pode apresentar problemas financeiros no longo prazo. De maneira geral, valores abaixo de 50% são considerados péssimos sinais. Valores próximos ou pouco acima de 100% são considerados bons. E valores entre 150% e 250% são considerados excelentes.
É importante analisar este indicador juntamente com o índice de liquidez corrente. Nos casos em que a empresa contrai empréstimos de longo prazo sua liquidez corrente será favorecida pela entrada desses recursos no seu caixa, ao passo que o valor da dívida não será registrado no passivo circulante, e sim no passivo não circulante, o que criará uma posição enganosa na liquidez corrente dessa empresa, sendo necessário analisar a liquidez geral para corrigir isso.
O índice de liquidez geral é, normalmente, menor do que o índice de liquidez corrente por causa das exigibilidades de Longo Prazo, as quais algumas vezes são maiores do que os ativos não circulantes, indicando neste caso uma alavancagem no longo prazo.
Entretanto, resultados muito acima de 100% não indicam necessariamente uma melhor situação em relação a uma empresa que possui um resultado pouco acima de 100%. A interpretação dependerá do perfil da indústria e do período econômico. A liquidez excedente, ou seja, o percentual que a empresa apresenta acima de 100%, serve como uma margem de garantia e de segurança para períodos ruins e para problemas inesperados.
Contudo, valores acima de 300%, dependendo do setor da empresa, podem significar um excesso de liquidez, ou seja, ineficiência na gestão e alocação dos recursos, os quais poderiam se investidos em ativos que futuramente aumentariam o lucro.
Ao analisarmos a evolução da liquidez geral de uma empresa ao longo de vários trimestres podemos identificar se esse indicador está aumentando, o que indicaria que a capacidade de pagamento da empresa vem crescendo, ou se o indicador vem diminuindo, o que indicaria que a capacidade de pagamento da empresa vem diminuindo.
É importante compreender que fazendo dívidas a longo prazo a empresa terá mais tempo para gerar a receita para liquidar suas dívidas, podendo ainda renegociar as suas condições. Normalmente acaba sendo mais vantajoso contrair dívidas de longo prazo do que de curto prazo.
É importante para os investidores, bem como para os credores, saber se a empresa tem capacidade financeira e geração de caixa suficiente para pagar os valores principais de seus empréstimos, bem como as suas parcelas e juros acumulados. Um índice de liquidez ruim (abaixo de 100%) pode sugerir que a empresa não será capaz de cumprir com as suas obrigações de longo prazo.
Diante disso, é importante avaliar se a Empresa consegue manter sua liquidez geral acima de 100% à medida que o Passivo aumenta ao longo dos trimestres indicando uma boa relação entre Passivos e Ativos e, acima de tudo, se esse aumento do endividamento vem contribuindo para o crescimento do Patrimônio Líquido.
"Aquele que almeja a felicidade jamais a terá, pois quanto mais a busca, mais ela se distancia".
• Liquidez Corrente - Este índice avalia a capacidade de pagamento das dívidas de curto prazo (até 1 ano) da empresa. Representa quanto a empresa tem no ativo circulante para cada real de passivo circulante. Assim, indica a capacidade de pagamento da empresa no curto prazo, ou seja, quanto a empresa dispõe em recursos de curto prazo (disponibilidades, clientes, estoques, etc) para honrar suas dívidas circulantes (fornecedores, empréstimos e financiamentos de curto prazo).
Quanto maior for a liquidez corrente maior será a margem de segurança financeira da empresa para equilibrar as entradas e saídas de caixa, podendo se aproveitar de melhores prazos e condições de financiamento de curto prazo.
O índice de liquidez corrente está diretamente associado ao ciclo operacional da empresa, ou seja, ao tempo que a empresa leva para renovar seus estoques, somado o tempo de recebimento das vendas a prazo. Uma empresa do setor de varejo, por via de regra, deve ter um índice de liquidez corrente maior que uma empresa do setor de serviços, pois esta não possui estoques, e uma indústria deveria ter índices maiores que ambas em razão do seu ciclo operacional ser maior e grande parte do ativo circulante ser composto por estoques.
Em geral, se estiver abaixo de 100% tem-se uma situação desfavorável, pois evidencia que a empresa vem recorrendo demais a capitais de terceiros para financiar o seu ciclo operacional. Por não possuir o total necessário para quitar suas dívidas de curto prazo, a empresa dependerá em maior extensão de lucros futuros, renovação das dívidas ou vendas de ativos imobilizados, ou mesmo, empréstimos para se manter solvente, sendo obrigada a pagar juros maiores.
É um sinal ruim, pois neste caso o passivo circulante pode crescer ainda mais rápido do que o ativo circulante conduzindo a graves problemas de solvência no futuro. Um baixo índice de liquidez corrente representa o primeiro sinal de problemas financeiros.
Afirma-se que este quociente deverá ser maior que 100% a fim de manter adequada margem de segurança financeira. Se estiver acima de 100% a situação da empresa é favorável e revela a existência de capital de giro próprio. Significa que a empresa tem dinheiro em caixa para saldar suas dívidas de curto prazo, servindo também como reserva emergencial para situações de crise e períodos de recessão.
É claro que isso depende da capacidade de os recebíveis se converterem realmente em dinheiro antes da quitação das dívidas e também do ramo da empresa. Uma companhia de transporte público não vende a prazo, não possuindo, portanto, recebíveis. Nesse caso, um índice ligeiramente menor que 100% pode não ser problemático.
Por outro lado, um altíssimo índice de liquidez corrente pode significar que a empresa tem uma grande quantidade de recursos alocados em ativos não produtivos (ineficiência), como estoques que não estão sendo vendidos e se tornando obsoletos.
A liquidez corrente é um dos índices mais utilizados na análise econômico-financeira, sendo considerado o melhor indicador para avaliar a situação líquida da empresa. Esse índice relaciona quanto de dinheiro disponível e conversível imediatamente tem a empresa em relação às dívidas de curto prazo, mostrando quanto a empresa poderá dispor em recursos a curto prazo (caixa, bancos, clientes, estoques, etc) para pagar suas dívidas circulantes (fornecedores, empréstimos e financiamentos a curto prazo, contas a pagar, etc).
Em setores de comércio varejista seria interessante uma liquidez menor que em setores com sazonalidade, por exemplo. No comércio, baixa liquidez pode significar maior nível de eficiência nas atividades operacionais. Já as empresas de maior porte podem operar com menor liquidez corrente que empresas de pequeno porte. Empresas que dominam a cadeia de suprimento também podem operar com menor liquidez.
Como a liquidez corrente faz parte de modelos de concessão de crédito de instituições financeiras, e alguns destes modelos consideram que liquidez maior representa menor risco, é possível que as empresas sejam incentivadas a melhorar seu desempenho de liquidez em razão disso. Uma boa liquidez corrente significa maior independência da empresa em relação a credores e maior capacidade de enfrentar crises e dificuldades inesperadas.
Vale ressaltar que ambos índices, mesmo mostrando uma situação favorável para a empresa, deverão ser comparados com os índices de outras empresas do mesmo setor, pois só assim pode-se tirar conclusões satisfatórias sobre os resultado dos mesmos.
Diante disso, é importante avaliar se a Empresa consegue manter bons níveis de liquidez corrente, apresentando um Ativo Circulante significativamente superior ao Passivo Circulante ao longo dos trimestres, indicando uma boa cobertura do Passivo Circulante pelo Ativo Circulante.
"Inteligência é a capacidade de se adaptar à mudança".
Stephen Hawking
Situação 1 - A empresa apresenta uma estrutura de capital e um risco financeiro dentro dos padrões normais esperados. Seu Ativo Total é superior ao seu Passivo Total em 40% (Patrimônio Líquido), indicando uma boa cobertura dos ativos pelo patrimônio líquido (40%), um grau de endividamento normal (60%), uma Participação de Capitais de Terceiros dentro do normal (150%) e uma liquidez geral alta (160%).
Além disso, sua composição do endividamento é de 41%, ou seja, 41% das dívidas da empresa vencem no curto prazo, e seu Ativo Circulante é superior ao seu Passivo Circulante, indicando uma liquidez corrente de 120%, ou seja, seu Ativo Circulante cobre as dívidas de curto prazo e permite à empresa que invista a parte sobressalente dele (20%) em mais ativos para aumentar a sua produtividade ou em participações de outras empresas, por exemplo, bem como realize o pagamento de suas dívidas e financiamentos.
Situação 2 - A empresa apresenta uma estrutura de capital alavancada e de alto risco. Seu Ativo Total é superior ao seu Passivo Total em 15% (Patrimônio Líquido), indicando uma baixa cobertura dos ativos pelo patrimônio líquido (15%), um grau de endividamento elevado (85%), uma Participação de Capitais de Terceiros muito alta (566%), indicando uma grande dependência de dívidas com fornecedores e financiamentos, e uma baixa liquidez geral (117%).
Além disso, sua composição do endividamento é de 53%, ou seja, 53% das dívidas da empresa vencem no curto prazo, e seu Ativo Circulante é inferior ao seu Passivo Circulante, indicando uma liquidez corrente de 44%, ou seja, seu Ativo Circulante cobre apenas 44% das dívidas de curto prazo, o que obriga a empresa a tomar empréstimos e financiamentos não apenas para investir em mais ativos, mas também para recompor o seu capital de giro e para saldar seus passivos circulantes.
Esse cenário geralmente vem acompanhado de um histórico de baixa rentabilidade, o que aumenta ainda mais o risco oferecido pela empresa. Normalmente, caso esse quadro não melhore, a tendência no longo prazo é que a empresa venha a apresentar dificuldades para pagar as suas dívidas de longo prazo também, sendo obrigada à renegociá-las ou a vender ativos, a emitir mais ações ou a obter novos financiamentos para pagar as dívidas que estão vencendo.
Situação 3 - A empresa é insolvente, ou seja, suas dívidas são maiores que seu patrimônio. Seu Passivo Total é superior ao seu Ativo Total em 20% (Patrimônio Líquido Negativo), indicando um grau de endividamento elevadíssimo (120%) e uma liquidez geral muito baixa (83%), indicando uma excessiva quantidade de dívidas com fornecedores e de financiamentos e empréstimos, os quais são superiores ao capital da empresa.
Além disso, sua composição do endividamento é de 54%, ou seja, 54% das dívidas da empresa vencem no curto prazo, e seu Ativo Circulante é muito inferior ao seu Passivo Circulante, indicando uma baixa liquidez corrente (23%), ou seja, seu Ativo Circulante cobre apenas 23% das dívidas de curto prazo, o que obriga a empresa a vender ativos, lançar mais ações e a tomar novos empréstimos e financiamentos, não apenas para manter seu operacional funcionando, mas para quitar suas dívidas vencidas e que irão vencer. E quando a venda dos ativos não é suficiente para pagar todas as dívidas a empresa irá à falência.
Sendo assim, os capitais permanentes (Patrimônio Líquido e Passivo não Circulante) não só devem financiar o ativo imobilizado, mas também uma parte do ativo circulante. A parte do ativo Circulante financiada com capitais permanentes constitui o chamado Capital de Giro. O excesso de capital permanente sobre o ativo imobilizado, que é o capital de giro, constitui uma margem de garantia ou de segurança financeira (solvência) que permite compensar os desajustes entre os fluxos financeiros de entrada e saída provocados pelo ciclo operacional.
Portanto, manter bons níveis de liquidez é de extrema importância. A capacidade de pagamento da empresa deve ser suficiente para atender aos seus compromissos de curto prazo, tanto as despesas correntes, bem como pagamentos que estão por ser realizados, além de ser interessante manter a margem de segurança para os casos de situações repentinas. Além disso, é fundamental que a empresa consiga manter também bons níveis de liquidez no longo prazo, de forma que futuramente a sua capacidade de pagamento não venha a ficar prejudicada.
Cada tipo de negócio requer um valor de liquidez média específico, sendo assim, através da comparação intra-setorial é possível avaliar se o grau de liquidez de determinada empresa é satisfatório ou não. Assim, torna-se importante acompanhar e avaliar a evolução dos índices de liquidez da empresa em relação aos índices do setor, de forma a verificar se estão ou não acompanhando a tendência geral do setor e se vêm apresentando diferenças significativas, bem como se estão numa tendência de crescimento ou de redução.
"O dinheiro não tem a mínima importância, desde que se tenha muito".
Truman Capote